Quem é você, filho?

Às vezes quando o Gu dorme, fico olhando pra ele, pensando, analisando, me questionando sobre esse ser tão diferente de mim e que ao mesmo tempo, tem muito de mim. Afinal, quem é o Gustavo? O que de fato ele gosta, o que pensa, do que tem medo? E inevitavelmente, acabo meio deprimida, com medo de não saber, de não ver, de não entender. Quando ele era menor, eu sabia que ele era diferente, mas eu cometi um dos maiores erros que uma mãe pode cometer: não ouvi meu coração. Algumas pessoas diziam que era assim mesmo, outras diziam que ele não gostava de mim, outras ainda diziam que era o jeito dele. Mas no fundo, eu sabia. A sensação é diferente de tudo o que posso imaginar ou tentar descrever. Uma certeza quase imperativa e que ao ouvir a opinião dos outros, deixei-me literalmente, tapiar com falsas verdades. Primeiro porque eu detesto essa coisa de que criança é assim mesmo, que todas são iguais, "são coisas de criança", etc. E segundo, porque pra mim, ninguém é igual a ninguém. Ponto. Então, até mesmo hoje, quando eu acho meu filho diferente, estou me referindo a algo que não se encaixa nele mesmo. Quando algo é maior do que nós, ou muito distante daquilo que vivemos no cotidiano. Enquanto ele não falava, o próprio silêncio nos colocou a lei da observação, ou seja, o único meio de acharmos onde e porque daquilo. E mesmo com a fala, o que há de comunicação ainda não é o suficiente para decifrar-mos quem ele é. Mas como em tudo nessa vida, é preciso paciência, persistência e tirarmos proveitos e lições daquilo que estamso vivendo. E por incrível que pareça, obviamente, aprendemos muito mais nos momentos de dor do que nos de alegria. Acredito que porque na dor, no sofrimento, você se recolhe, se ouve mais, o silêncio é mais companheiro. Há menos alarde, vamos assim dizer, porque você não vê pessoas gritando aos ventos que está triste, amargurada. Não, isso é coisa da felicidade e da alegria, companheiras inseparáveis do entusiasmo. Mas também descobri que enquanto aprendemos sobre nossos filhos, aprendemos sobre nós mesmos também. É preciso olhar e ver, muito além do que se apresenta diante dos olhos. É preciso respeitar os gostos, os gestos, as opiniões deles como indivíduos diferentes de nós. Porque o reflexo que isso trará é uma imagem mais clara de nós mesmos, veremos quem somos pelos olhos deles, pela educação que demos e que eles carregam para a sua vida fora de casa, no seu convívio escolar e social.

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