Desde que soube das possibilidades do Gu ter autismo, de como as coisas poderiam ou não evoluir em sua vida, comecei a repensar alguns valores, a analisar algumas questões, rever cada momento difícil que passamos em busca de algumas respostas. Não que pudesse fazer diferença no sentido de ter descoberto antes ou não. Não me culpo. Mas a busca incessante por respostas tem a ver com uma atitude mais positiva pra encarar as dificuldades, atuais ou vindouras, e principalmente, com auto-conhecimento.
Parando pra pensar, olhando pra trás, sei exatamente quando o Gu começou a manifestar seu sofrimento para nós. Por ignorância, por desconhecimento, achávamos que era birra, manha e não demos a devida atenção. Com o tempo, o caos se instalou na minha casa, mas por questões que ocorriam em nossas vidas na época, a mudança pra longe da família, a perda de um ente querido, não conseguia entender o que se passava com nosso pequeno.  Sabia que havia algo de errado, mas não sabia o quê?! Uma nova mudança de vida nos trouxe esperança e uma luz no fim do túnel, mas era só o começo. Vieram muitas dúvidas e questões no decorrer desses ultimos dois anos. Foi aí que começou o processo de amadurecimento em nossas vidas, de percebermos que era preciso mudar para evoluir. Que era preciso ver o Gu como ele realmente era e ouví-lo para podermos chegar a algum lugar. Hoje é possível agir com mais lógica e praticidade na hora de ponderar decisões e decidir medidas que possam nos auxiliar no dia a dia. Se no momento não posso fazer uma terapia X, seja por falta de recursos financeiros, seja por não estar de acordo com os médicos disponíveis, não fico me martirizando. Paro, penso, medito, oro e creio. Acredito mesmo que sempre se pode fazer algo, de uma maneira ou de outra. Mas acredito mais ainda no poder da atitude positiva e da fé. E em nenhum momento depois que me recuperei do choque inicial, duvidei da capacidade do Gustavo. Mas foi preciso, em primeiro lugar, fazer essa busca interior e fortalecer fé e esperança, reavaliar valores, parâmetros e mudar condutas. Conhecer o Gustavo e a mim mesma para saber o que era fruto do autismo e o que era o Gustavo sendo uma criança como outra qualquer. Buscar paciência (coisa com a qual não nasci, admito) no fundo do meu coração pra poder entender esse ser pequeno com dificuldades de se comunicar com o mundo.
Criar uma relação de confiança, mesmo com um filho, é muito mais difícil do que se parece, porque muitas vezes é preciso deixar a mãe de lado e ser tão somente a amiga, a companheira das brincadeiras, a ouvinte de suas súplicas. Porque mãe, mesmo na melhor das intenções, só ouve o que quer, só vê o que quer e só faz o que acha que o filho quer. É da natureza da mãe achar que sabe o que é melhor sem levar em conta a vontade individual do filho, e mesmo sendo por amor, não deixa de ser uma agressão, de ferir a autonomia do outro. Buscar um meio termo entre ouvir e respeitar a vontade dessa criança e ao mesmo tempo buscar o que é melhor e estabelecer paz nesse conflito, porque geralmente essas duas coisas não serão iguais, é uma tarefa que requer muito jogo de cintura e nem sempre estamos preparadas pra reconhecer ou travar essa guerra interior.
Mas é preciso, para então podermos enchergar com clareza que a capacidade do outro não é igual a nossa e nem por isso é inferior. As respostas de cada um para cada situação são extremamente pessoais e baseadas em sentimentos que conhecem, em experiências já vividas, e interpretadas de acordo com o que assimilaram até aquele momento em suas vidas. Não se trata então de julgar que a capacidade que sempre acreditei no Gu seja melhor ou pior do que a minha capacidade de ser humano. Apenas acredito na capacidade e no potencial dele, sem buscar quantificar de que forma isso vai se apresentar, sem esperar que ele seja um gênio da matemática nuclear e nem subestimá-lo achando que se ele tiver uma vida "quase normal" já está bom.
A questão é: ele será o que tiver que ser, o que quizer ser, o que se empenhar para ser. Como eu. E como todos que buscam se colocar nessa vida em algum lugar, com um propósito, um objetivo. Talvez seja preciso um pouco mais de esforço pra tentar mostrar a ele que ele pode tudo o que quizer, fazê-lo acreditar em si devido às suas dificuldades atuais. E isso eu só vou conseguir fazer se tiver fé. Se eu realmente acreditar nele de coração aberto.

Comentários

  1. Os medos de uma mãe de uma criança com síndrome, e seja ela qual for, não é diferente dos medos e espectativas que é inerente às mães, qualquer mãe, seja qual for a condição que estejam. As vezes fico pensando se talvez uma das forças do preconceito, não venha do fato de querermos ser reconhecidas como especiais, ao invés de misturada as massas. Todos querem estar ligados a um grupo, que criam uma identidade própria, e que por outro lado, pertence a muitos (confuso, não?!). É uma faca de dois legumes (rss). Ainda assim, não há nada melhor como informar. E isso está muito bem colocado aqui através de testemunhos singelos que vem ser o eco de tantos que soam silenciosos em tantos lares, recolhidos em seu próprio medo solitário. Nada pior que o medo da incompreensão, e qdo vemos que não estamos sós....
    Parabéns!!

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